sábado, outubro 06, 2007

PROPOSTA

Vamos inalgurar logo esse blog? Proponho um texto em que todos participem... O título virá no final... Vamos lá? E no fim, a gente apaga esse parágrafo e pede para o leitor tentar adivinhar quem escreveu o que...
Só para organizar, mudem a cor deste texto cada vez que alguém acrescentar algo a ele, ok?


Três guerras seguidas. E só se passaram 13 anos. Eu diria que não haveria quem sobrevivesse a tanto terror sem se marcar com a dor cinza, se não conhece os olhos meigos daquela menina que morava na fronteira sul da capital. Como não acreditar em Deus olhando dentro dos seus olhos? Quanta calma havia ali, vinda inexplicavelmente após sorrisos(!) quando ela nos falava algo...
Me lembro da primeira vez que a vi. Um prédio antigo, com cheiro de ferrugem e mofo no ar, servia de casa aos seus apenas 17 anos e vestidos esvoaçantes. Eu estava saído de casa apressado, para ouvir o pronunciamento do ministro da defesa, que provavelmente anunciaria o fim da guerra naquela noite. Todos rezavam por isso, há tempos. Eu sei que, depois do longo discurso, foi uma festa geral. Mas eu não cheguei a ver isso pela televisão do ginásio da escola. Fiquei no meio do caminho, hipnotizado. Parei na rua e observei a garota pela janela de sua própria casa. Ela dançava, no silêncio, ao som de uma canção antiga do rádio. Era muito nova pra conhecer aquela canção, pensei. Acho que foi isso que me chamou a atenção. Fiquei apenas observando a dança e sentindo a canção... Há quanto tempo eu não me permitia deixar envolver-me por uma canção... Naquele momento, eu sonhei de olhos abertos. Sonhei que podia dançar pelas ruas, sem medo. O tempo parou, num instante e pude sentir uma calma, que a muito eu não sentia. Me lembro bem desse sentimento... E isso foi a dois meses atrás. Acreditem: a vida muda muito rápido quando a gente não presta atenção aos detalhes. Ou quando, de repente, a gente repara um deles... E eu acho que algo mudou depois daquela noite.
Mas em que noite as coisas não mudam? Pensando bem, apenas a luta contra o tempo me fez passar um bom tempo sem apreciar a velha canção no rádio, pois costumava eu meditar acordado em movimento enquanto decifrava poesias musicadas por pessoas que nem da capa de velhos vinis eu viria a conhecer...Estranho, quem me vê assim falando imagina no mínimo um adulto experiente. O mundo está precoce e acredite, mal acabo de deixar de ser adolescente! E voltando aos fatos em si, que garota com tamanha divindade não faria um pobre pagão perder seu precioso "time is money" para apenas observar, sem desejo, apenas mimo... Mas se a cada noite a vida muda, dois meses seriam suficientes pra esquecer aquela velha canção. Definitivamente aquela canção não... Sim, gosto de reticências, pois se parecem com o violão e com a dança... ah... a dança!!! As guerras? Me desculpem, mas no meu lugar me entenderiam.
Eu não queria as guerras agora, mas é impossível se livras de certas cicatrizes... Após treze anos, desde aquela primeira vez que eu a vi, lá estava eu, frente a frente com aquela garota que dançava numa noite que tinha um misto de esperança e cansaço.
Seu olhos continuavam incrivelmente iguais. Apenas algumas linhas em sua face demonstravam que o tempo também passou para ela. Agora, era uma mulher. Uma mulher proibida. Casada com o filho daqueles que nos odiavam apenas por sermos de um outro país.
Eu não entendia essa estupidez: por que a guerra nos faz tão irracionais? Por que odiamos tanto outras pessoas que lutam por lutas que, na verdade, não são suas? Eu não sabia a resposta para isso. Na verdade, eu me sentia meio fora do mundo, quando pensava nessas coisas. Parece que vim de um outro lugar, bem diferente das origens de todos ao meu redor. Eu era estrangeiro em minha casa.
Hoje porém, aquela menina, agora mulher, abriu-me um soriso universal, que fala a todas as línguas, a todos os corações. Ela estava na recepção da festa de casamento de um grande amigo meu. Recolhia os convites com muita simpatia, retribuindo um sorriso em troca de cada convite que lhe era entregue.
Por um momento, meu coração cansado sentiu-se jovem. quase quinze anos mais jovem. Mas uma dor ainda aguardava por mim, assim que eu pisasse no salão daquela festa.