quinta-feira, dezembro 23, 2010

AGORA NÃO

Se eu morresse agora,
eu morreria feliz.
Mas não!

Eu quero a vida quente
doce, frágil, feroz

Afinal ainda não
escrevi uma árvore
não tive um livro
nem plantei um filho.

Há um universo a viver!

sábado, novembro 27, 2010

PÚLPITO

Quebraram o meu nome
na esquina agora.
Perdi alguma coisa.
Não sinto meus pés.

Sinto muito.
Agora é tarde.

São seis da manhã.
Eu gritanto aos sete ventos:
Bom dia, meus irmãos!

quarta-feira, novembro 17, 2010

FESTA DA CARNE*

Ela, quase nua no meio da rua.
Uma aquarela pintada em carmim.
Boca sedenta, minha carne engolia
num frenesi que febril me fazia.

Naquele dia, sentia daquela noite
um gozo pueril de um velho leão.

Eu era um brinquedo
nas mãos da donzela.
Me quebrava a costela
com seus lábios voraz.

Ardia na fina chuva,
no meio de todo o povo
numa noite de carnaval.


* Para matar a vontade de Leonardo Rander, que não gosta da minha prosa.

terça-feira, julho 20, 2010

é fica assim não.
faz isso mesmo!
você pode fazer tanta coisa melhor,
não se prive de oportunidades por causa de amor...

afinal o tempo e a convivência são ótimos remédios!

matam o amor.
ou o fazem nascer

mas, tão logo podem matam
péssimas parteiras que são.
talvez se trabalhassem separadamente...
é como diz um antigo ditado vampiresco:
"criança com muitas parteiras nasce morta."

segunda-feira, junho 14, 2010

MANHÃ GENTIL

A rua desaba na cabeça de quem passa.
Um vazio insuportável de segurar.
São seis e meia da manhã de quarta.
Um mendigo dança sozinho no meio da rua.
Observo o vapor sair da minha boca.
Pessoas saem da padaria sonolentas.
O sol ilumina, preguiçoso, as ruas.
O som recomeça a existir, enfim.
Ouço meu amigo imaginário dizer:
"Bom dia!"

terça-feira, maio 18, 2010

pipocas



Ele: tem mais casas pra colcar em ordem?

Eu: espero que tenha. não quero q essa seja a única... a última (pra não pecar por olho-grande). república pra sempre nem dá certo... mesmo q seja com os melhores amigos do mundo. além do mais, ainda quero casar comigo.

Ele: comigo?

Eu:hehehehe. pode ser o próximo da lista! primeiro eu pretendo casar comigo mesmo.

Ele: mesmo?

Eu: mesmo. nunca se sabe...neh?

Ele: é.

Ainda não escolhi o sentido do diálogo.

quinta-feira, abril 08, 2010

A Senhora e o Jardineiro
















- Quem plantou aquelas flores?-Perguntou a senhora.
- Fui eu senhora! - respondeu o jardineiro sorrindo, certo de que a surpresa seria bem aceita.
- Pois, pode arrancá-las, eu não as quero ali. Lá é o lugar das minhas sempre-vivas, você bem sabe, ali é o lugar delas. - replicou a senhora aborrecida.
- Mas, senhora, elas estavam morrendo, estavam feias, pareciam amarguradas e tristes, eu só quis dá-las um novo lar. Achei que assim, elas se sentiriam melhor, aliás, as flores ficaram muito bem no lugar delas. - disse o jardineiro.
- Você não tem que achar nada. Não é pago para isso! Volte com as sempre-vivas para o lugar que elas sempre estiveram, afinal, foi meu marido quem as plantou e elas devem ficar lá.
- Ele mesmo dizia que ali não era bom lugar para elas, é muito úmido e elas gostam do sol. Antes dele morrer, pediu-me que as replantasse em um local bem ensolarado.
- Olha , do meu marido entendo eu, fazia tudo ao contrário do que eu queria, e se ele estivesse aqui agora estaria me contrariando, assim como voce está fazendo. - disse a senhora furiosa.
- Mas, ele a amava tanto, procurava sempre lhe agradar, era tão carinhoso para com a senhora. Adorava lhe ver sorrindo!
- Olha aqui, quem te deu liberdade para ficar bisbilhotando a nossa vida? - ralhou a senhora.
- Desculpe-me senhora, só queria que a senhora continuasse a sorrir ao lembrar que ele sempre cuidava do jardim para lhe fazer feliz! - exclamou o jardineiro desolado.
- Tá bom, agora chega de conversa, deixe as coisas como estavam e arranque também essas flores. Eu não quero mudar nada e não mudaria nem mesmo se ele estivesse aqui.
- Mas, senhora???...
- Ops..., nem mas, nem menos...faça o que eu mando e não me retruques! - disse a senhora decidida antes de entrar e bater a porta com força.
 
O jardineiro então, fez tudo o que ela pediu, juntou as ferramentas, guardou-as no devido lugar e foi para casa.
 
No mes seguinte, voltou para cuidar do jardim. Como sempre fazia, cuidava com carinho de cada planta, árvore e arbusto, como lhe ensinara seu saudoso patrão.

Então a senhora lhe disse:

- Olha aqui, trate de mudar essas sempre vivas deste lugar, pois, quero que plante essas flores aí. - ordenou a senhora.
- Elas são iguais àquelas que a senhora mandou arrancar no mes passado. Se o patrão estivesse aqui iria gostar! - disse contente o jardineiro.
- Não me importa se ele iria gostar ou não, só quero que faça o que lhe mando e pronto.

O jardineiro assim o fez. E pensativo, refletindo sobre tudo, chegou à conclusão:
 
- É, ele realmente a amava...

quarta-feira, abril 07, 2010

O caminho bento de São Damião

- O cálice!
- Eu não bebo mais!
- A porta!
- Deixe aberta, vá!
- A hora!
- Eu escolho, sim ou não...
Ela ainda era ela.
Eu já era um novo eu.
Ele queria o passado.
Nós estávamos em ritmos diferentes.
E tudo era uma paisagem.
Agora o tempo já foi embora.
A fotografia é tudo que resta.
- A vida!
- Ela é minha!
- A revanche!
- Deixa estar!
- O passado!
- Já passou!
E o tempo é só tempo.
As frases são só palavras.
E nós somos só amigos.
Pra que mudar?

segunda-feira, fevereiro 22, 2010

(andré)²

-- bando de machistas, misógenos escrotos! (to revoltado..)
-- fica naum. eu entendo vc, eh um artista
-- heeheheheh... artista? tah...
-- qer se expressar...
-- isso é pq eu quero contar algo pra alguém. não sei quem aí conto pra todo mundo!
-- putz...

quarta-feira, janeiro 13, 2010

diogolo - porque a poética não abandona a razão



a razão é uma paralítica. dessas que não tem tato algum, nem na pele nem pra falar. não é muito amargurada, ela sempre foi assim - nunca sentiu nada.

a poetica é sinestésica. dessas que misturam tudo e ficam hiper-sensíveis a qualquer coisa, das que lhe tocam a pele e das que não fala. essa é amargurada, e sempre foi assim - ela é muda.

a poética é enfermeira da razão. a poética, apesar da amargura é muito espiritualizada. coitada, nunca abandonou a razão. sempre a acudiu, afinal a razão não faz nada, não sente nada. só fala e organiza - e issos ela faz demais.

razão e poética dividem um segredo: são telepatas (apenas entre si) - pelo menos elas acreditam piamente nisso. a poética experimenta tudo, tem seus arrombos de exageros perceptivos, se angustia e amargura por não conseguir falar. olha desesperada a razão, telepatas que são, razão tenta consolar a amiga expressando o que sua telepatia captou, mas a razão nunca sentiu não sabe do que fala.

a poética se consola em ver a razão falar de suas sensibilidades. e volta a oferecer experiências pra razão organizar.
a esses momentos de consolação elas chamaram poesia,conforta a razão que não sabe do que fala, acalma a poética que é muda e nunca poderia falar do que sabe.

a poética é surda.

no celular

ele: amanhã a vida vai me sorrir!
eu: será que ela ainda vai ter dentes?
ele: (estoura de rir)
eu: a vida parece comida que passa fácil do ponto. vou inventar uma coisa a respeito.
ele: inventa sim...

a conversa continuou. a vida também...

por falar nisso,

a vida é um filé de peixe: é complicado de temperar; fede antes disso; salga fácil e se desatento, passa do ponto.

acompanha bem arroz branco e jejum de quaresma.

vida: porque não se pode ter outra coisa.